O Dever do
Sexo no Casamento
Rev. Angus
Stewart
Tradução:
Felipe Sabino de Araújo Neto1
Sexo fora do
casamento é pecado; todos os cristãos sabem isso, e os incrédulos também. Não
ter sexo no casamento (sob as circunstâncias ordinárias) também é pecado;
talvez nem todos estejam cientes disso. De acordo com I Coríntios 7:3-5, sexo
no casamento é uma dívida. Negligenciar ou recusar fazer sexo com o seu cônjuge
é roubo, uma quebra do oitavo mandamento: "Não furtarás."
A Bíblia tem
coisas importantes para dizer sobre solteirismo, casamento e sexo. Dessa forma,
a igreja deve ensinar esses assuntos, bem como as verdades da Santa Trindade, o
fim dos tempos e a graça irresistível. A igreja ensina esses assuntos em
sermões, salas de catecismo, aulas para noivos e (como agora) mediante
escritos. Pais sábios também falam com seus filhos sobre essas questões, como
fez Salomão com seu filho em Provérbios (e.g., Pv. 2:16-19; 5:3-23; 6:24-35;
7:6-27; 9:13-18).
Sem dúvida,
a maneira, bem como o conteúdo, do ensino cristão sobre casamento e sexo é bem
diferente daquela do mundo. Não objetivamos instigar ou excitar os santos, nem
somos pudicos, simplesmente ignorando o assunto. Em vez disso, proclamamos o
ensino bíblico sobre sexualidade com pureza e autoridade.
Jesus Cristo
é Senhor, e isso significa que Ele é Senhor do casamento e do lar do casal
também. Ele tem coisas a dizer aqui. Assim, nosso objetivo é a glória de Deus
em Jesus Cristo e a edificação dos santos. Dentro dessa estrutura e com esse
espírito, consideremos o dever do sexo no casamento.
I Coríntios
7 fala de marido e esposa dando a "devida benevolência" um ao outro.
"O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher
ao marido." "Devida benevolência" aqui não significa que marido
e esposa devem mostrar um ao outro apenas bondade em geral. Considere o
contexto. Um propósito do casamento é "evitar a fornicação" (2). No
casamento, seu cônjuge tem autoridade sobre o seu corpo, especialmente no leito
matrimonial (4). A "incontinência" no versículo 5 refere-se a falta
de auto-controle sexual. Assim, "devida benevolência" em I Coríntios
7:3 refere-se especificamente à bondade devida ao cônjuge na relação sexual.
Essa
"benevolência" sexual é "devida" ao seu cônjuge. É uma
dívida, algo que você deve ao seu marido ou esposa. Não é meramente um favor
que você faz caso seu cônjuge tenha sido bom. Obviamente alguns, por causa da
idade avançada ou debilidade, etc., são incapazes de cumprir essa dívida, mas
cônjuges cristãos normais devem pagar esse débito. Você está pagando esse
débito ao seu marido ou esposa?
Pessoas
casadas são donos das roupas e comidas que compram, e também da relação sexual
com o seu cônjuge: "A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas
tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu
próprio corpo, mas tem-no a mulher" (4). Seu cônjuge tem autoridade sobre
o seu corpo sexualmente falando; não você.
Alguns podem
objetar que eles não se lembram de jurar entregar a autoridade dos seus corpos
nos votos de casamento. Provavelmente isso não foi mencionado em tantas
palavras, mas a natureza do casamento como uma união de "uma só
carne" implica que seu cônjuge tem autoridade sobre o seu corpo
sexualmente, e não você. Esse é um pensamento cristão sóbrio. Sem dúvida, isso
reflete também o grande casamento que nossos casamentos devem refletir. A
igreja, a noiva de Cristo, é dona do seu próprio corpo? Não, a noiva de Cristo
está sob a posse e autoridade de Cristo, seu esposo.
Estamos
agora numa posição mais adequada para analisar o pecado de um casamento sem
sexo (assumindo que o sexo é fisicamente possível). É roubo não entregar o que
é devido. É roubar o seu próximo mais chegado, a saber, o seu próprio cônjuge.
É defraudar ele ou ela (5). Isso introduz a idéia de engano e fraude. O
casamento, por definição, inclui dar-se ao seu cônjuge. Ao recusar se entregar
sexualmente, como prometeu, você comete traição. Isso está fundamentado no
egoísmo, o desejo de fazer o que quiser com o seu corpo e não o que o seu
cônjuge quer. Esse egoísmo brota da incredulidade, a falta de fé na união vital
e espiritual entre Cristo e a Sua igreja que o seu casamento e relação sexual
deveriam retratar.
O pecado tem
conseqüências. Deus julgará e castigará você por ele. Seu cônjuge será ferido,
seriamente ferido. Recusar seus desejos sexuais é algo cruel. Ignorar ou ser
indiferente para com ele ou ela é impiedade. Cristo não trata assim a Sua
esposa! Seu cônjuge se sentirá insatisfeito, trapaceado e provavelmente se
tornará (pecaminosamente) amargo e ressentido. Assim, seu casamento sofrerá. A
intimidade física de todos os tipos se secará e você perderá a intimidade
emocional e espiritual também.
Pecados
maritais impendem as suas orações (I Pedro 3:7). As orações nas devoções em família
se tornam difíceis; as orações ficam sem resposta. A leitura da Escritura
também se torna um dever árduo. Eventualmente isso pode levar a devoções em
família infreqüentes ou à completa negligência.
Nenhuma
relação sexual no casamento também torna o seu cônjuge mais vulnerável ao
pecado de adultério Lembre-se: um dos propósitos do casamento é evitar a
fornicação (2; cf. Pv. 5:18-20). Satanás tem um interesse no seu leito
matrimonial. Ele anda em derredor, "buscando a quem possa tragar" (I
Pedro 5:8). Não vos defraudeis!
I Coríntios
7:3-5 ensina parte do chamado de maridos e esposas. Eles não devem permitir que
se tornem sexualmente indiferentes para com seus cônjuges. Não há lugar para
escusas mentirosas: "Estou com dor de cabeça". Isso não é uma licença
para explorar ou abusar do seu cônjuge. Nem é um incentivo à tirania masculina.
O marido é o cabeça que deve "alimentar" e "sustentar" a
sua esposa (Ef. 5:29). I Coríntios 7:3-4 enfatiza a igualdade entre marido e
mulher: o marido deve dar a "devida benevolência" à sua esposa, e
"igualmente" a esposa ao seu marido (3), e o marido tem autoridade
sobre o corpo da sua esposa, "também da mesma maneira o marido não tem
poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher" (4). Assim, no sexo
– como em todas as coisas, exceto no pecado—o marido e a esposa cristãos devem
procurar agradar um ao outro, e não a si mesmos, pois o amor "não busca os
seus interesses" (I Co. 13:5).
Qual então é
o papel do sexo no casamento? Primeiro, sexo não é a única coisa no casamento.
Êxodo 21:10, uma lei regulando (embora não requerendo ou aceitando) a
poligamia, declara: "Se lhe tomar outra, não diminuirá o mantimento desta,
nem o seu vestido, nem a sua obrigação marital." A "obrigação
marital" (Ex. 21:10) é a "devida benevolência" (I Co. 7:3), ou relação
sexual. Providenciar comida e roupa para a esposa também é mencionado.
(Incidentalmente, por que jovens cristãos estão namorando ou noivando, se não
estão numa posição de sustentar uma esposa, mesmo num futuro previsto?) Ainda
mais fundamental, os maridos devem amar suas esposas e as esposas devem se
submeter aos seus maridos (Ef. 5:22-33). Além do mais, os maridos devem
governar suas esposas em amor e elas devem ser auxiliadoras de seus maridos
(Ef. 5:22-33; Gn. 2:20s.). Isso envolve 101 deveres de um para com o outro.
Segundo, o
sexo não é a principal coisa no casamento. A coisa principal é o relacionamento
pactual no Senhor (Ml. 2:14). Aqueles que fazem do sexo a coisa principal no
casamento ficarão dolorosamente desapontados.
Terceiro,
sexo não é a base para o casamento. A verdade da Palavra de Deus é o fundamento
do casamento cristão. A amizade pactual de um pelo outro é baseada sobre essa
unidade na doutrina da Palavra de Deus em Cristo.
Onde então o
sexo entra no casamento? Primeiro, deve haver o amor de Deus em seu coração por
seu cônjuge. Fluindo desse amor, e como uma expressão desse amor, está a bênção
da relação sexual. Assim, embora o sexo no casamento seja um chamado e um
dever, ele é mais que um dever. É uma coisa alegre e prazerosa, deliberada e
natural, uma expressão de amor mútuo e um retrato da união de Cristo com a Sua
noiva, a igreja.
Há uma
exceção ao dever do sexo no casamento (além daquele da impossibilidade física)
se três condições forem satisfeitas. Primeiro, deve ser "por consentimento
mútuo" (I Co. 7:5)—não uma decisão unilateral do marido ou da esposa, mas
de ambos. Segundo, deve ser "por algum tempo" (5)—não para o resto de
suas vidas, ou por anos, mas por um período específico. Mais tarde eles devem
se "ajuntar outra vez" sexualmente (5). Terceiro, a abstinência
sexual deve ser "para vos aplicardes ao jejum e à oração" (5)—não
porque eles simplesmente estavam com vontade. Deus colocou certo peso em seus
corações, de forma que os prazeres de comer e ter sexo são postos de lado por
um tempo, para que possam se focar melhor em buscar a Deus. Todas as três
condições devem ser satisfeitas—consentimento mútuo, curta duração e propósito
religioso (para oração e jejum)—para um período de abstinência sexual. Onde
todas as três condições não são satisfeitas, a "devida benevolência"
da relação sexual permanece.
I Coríntios
7:3-5 contém várias lições vitais. Primeiro, a relação sexual é a regra no
casamento (e a exceção é rara e curta). Segundo, Maria não foi uma virgem
perpétua. O Concílio de Trento de Roma lançou um anátema sobre todos aqueles
que negassem que Maria jamais teve relação sexual com o seu marido, José, após
o nascimento de Cristo, mas Deus requer que as esposas dêem a "devida
benevolência" aos seus maridos (3-5). Terceiro, a passagem assume que um
casal cristão pode escolher jejuar e orar juntos. Você alguma vez já desistiu
de comida e sexo, para buscar a face de Deus com maior fervor? Quarto, não há
nada vergonhoso ou impuro numa relação sexual. Aparentemente, alguns em Corinto
enalteciam a virgindade até o céu e/ou exigiam o celibato no casamento, visto
que a relação sexual era vista como de certo modo questionável em santidade ou
pureza. "Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula"
(Hb. 13:4). Essa visão deturpada sobre casamento e sexo não é encontrada apenas
no Romanismo. John Wesley ensinou a superioridade da virgindade ao casamento, e
em geral aconselhava contra o casamento. Ele foi irremediavelmente influenciado
por sua leitura dos pais da igreja primitiva e de autores católico-romanos (que
lançam dúvidas sobre a bondade do casamento e do sexo). Mesmo quando Wesley se
casou, ele mostrou um mau exemplo, pois, em geral, negligenciava sua esposa e o
relacionamento deles era "distante e infeliz" (Stephen Tomkins, John
Wesley, p. 167). Quinto, I Coríntios 7 implica que marido e esposa falam sobre
assuntos sexuais juntos, pois entram em "consentimento" para se
abster por um tempo por razões religiosas (5). Em geral, os maridos e esposas
cristãos devem procurar agradar um ao outro, e viver sob o senhorio de Cristo
no casamento e no sexo.
Fonte: The Duty of Sex in Marriage
1E-mail para
contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em setembro/2008.
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